De
Ouro Preto, vai-se com relativa facilidade até Mariana. São cidades vizinhas, separadas (ou unidas) por cerca de 10 km de estrada asfaltada ou, melhor ainda, de estrada de ferro. Percorri a distância de carro, mas, para quem puder se programar, o melhor talvez seja fazer o percurso no trem turístico – a partir de Ouro Preto, vai-se de manhã e retorna-se à tarde, ficando lá o tempo justo para um passeio de reconhecimento.
Esta proximidade é, a meu ver, tanto benéfica quanto levemente nociva. Torna as coisas mais fáceis, mas também acaba dando a Mariana uma aparência de simples apêndice de Ouro Preto. E aí a comparação é difícil, pois Ouro Preto é uma cidade maior, mais variada e mais imponente. Curioso, a propósito, lembrar que foi Mariana, e não Ouro Preto, a primeira capital mineira. Bem, pode ser coincidência, mas eu notei uma certa disputa entre as duas cidades e um marianense chegou a me pedir que, na próxima visita, eu me hospedasse em Mariana e não em Ouro Preto. Preocupação talvez justa, embora, de um ponto de vista isento, eu não recomende a troca.
O difícil é visitar Mariana sem ter na mente a ideia de Ouro Preto. Nenhum demérito para qualquer uma delas, acontece apenas que, mais que vizinhas, são irmãs, partilham os mesmos ares e a mesma arquitetura.
Como, então, escapar desta xifopagia e descobrir, em Mariana, as suas particularidades? Primeiro, sem dúvida, caminhando, atentando para os detalhes, entregando-se aos poucos à cidade. Verdade que, durante a visita, fui prejudicado por uma forte chuva que me pegou em plena rua e me fez abreviar o passeio. Mas mesmo isso acaba sendo uma particularidade. Afinal, as cidades, inclusive as históricas, são vivas, e a memória do lugar se mistura inevitavelmente à memória dos momentos passados lá, criando uma figura única que se diferencia de todas as demais. Nem que, no caso, seja uma figura molhada de chuva.
E Mariana também tem pelo menos uma atração que, na minha experiência, distingue-a de Ouro Preto e das demais cidades da região. Saindo do centro (fui de carro), estão lá as Minas da Passagem, que dizem ser a maior mina de ouro atualmente aberta à visitação. É um passeio no tempo e no imaginário construído através de filmes e histórias que começa já no meio de transporte para o interior da mina: um trole. Quem nunca viu, num desenho animado, um destes carrinhos sobre trilhos? Lá, embarcar num trole dá direito a uma viagem entre o pitoresco e o inusitado. Com direito a pensar que, na saída, apesar da chuva, teremos a legítima comida mineira nos esperando para o almoço numa cidade que, além de tudo, tem nome de mulher.