A imagem pode parecer batida, mas Ouro Preto, a antiga Vila Rica, é uma cidade múltipla, como um diamante de faces brutas e lapidadas que apresentasse a quem olha uma miríade de cores, experiências e sensações. Ou, dizendo melhor ainda, como um altar barroco exuberante de dourado que reflete em cada direção um brilho próprio e único.
Cheguei à cidade na expectativa de conhecer a Ouro Preto (ou Vila Rica) colonial. E talvez esta realmente se sobressaia às demais. Mas não há como não notar que ela se divide em outras (ou a ela se somam outras? sutil diferença...): Ouro Preto dos estudantes, Ouro Preto das igrejas, Ouro Preto de Cecília e de Marília (esta, poética, também é diversa da Ouro Preto dos inconfidentes, mais uma sutil diferença), Ouro Preto mineira do tutu, do angu e do pão de queijo, Ouro Preto dos turistas e, claro, dos anfitriões.
Pois, como em praticamente todos os lugares que me surpreenderam positivamente, o que mais me marcou em Ouro Preto (e no restante das Minas Gerais que conheci depois) foi a receptividade de todos com quem eu conversava.
Claro, a cidade é realmente linda, ainda mais quando emoldurada por um arco-íris como o que tive a sorte de presenciar. As igrejas valem a visita. O Museu da Inconfidência é um dos melhores do Brasil. As ladeiras valem todo o fôlego que exigem. O artesanato de pedra-sabão vale o quanto pesa na bagagem, literalmente. Mas, acima de tudo, o que dá o tempero da viagem são as pessoas. Conversar com elas, deliciar-se com o sotaque, sentir que estão de braços realmente abertos. É um cuidado que os mineiros têm e que, quando se trata de culinária, não poderia resultar em outra coisa que não a típica cozinha mineira. É fato que outras plagas também têm receitas e restaurantes maravilhosos; mas em poucos lugares tive tão forte a impressão de que é “difícil errar” quanto em Minas: em qualquer pequeno restaurante que se entre, tem-se a certeza de que a refeição será saborosa, farta e a um preço bastante razoável.
Terminado o almoço, uma porção de doce de leite caseiro. Mais tarde, antes mesmo de sentir fome, a vontade de um pão de queijo: basta então se guiar pelo aroma que vem da primeira padaria e abastecer-se de uma fornada. Gula? Culpa? Fácil esquecê-las, nem que seja olhando para a próxima ladeira e considerando que será preciso energia para seguir em frente. Afinal, está-se em Minas e o doce esforço, como tudo nesta terra, vale a pena.