
Os Açores, porém, têm uma particularidade. As lojas fecham e as ruas ficam desertas assim que começa a escurecer. Não há vida noturna, pelo menos nada comparado ao que estamos acostumados. E em Santa Cruz das Flores, vila de 2500 habitantes (a ilha inteira tem 4000 habitantes), realmente não esperávamos muito agito. Apenas um lugar onde comprar um sanduíche e algo para beber...
Não achamos. E voltamos para o hotel, resignados. Então, já no quarto, vendo ao acaso alguns folhetos de propaganda, achei o anúncio de um restaurante tentador. Parecia um ambiente grande, com música ao vivo, onde serviam lanches e refeições completas, que faria bonito em qualquer metrópole. O point. E o melhor: junto ao hotel Ocidental, dizia o folheto. Era precisamente onde estávamos.
Lá vou eu, então, mais uma vez, explorar o lugar. Missão: encontrar o tal restaurante. Eu estava achando estranho que não tivéssemos passado por ele antes, mas bastaria perguntar a alguém. Desci. Não encontrei ninguém na recepção do hotel. Paciência, pensei, e saí a procurar o restaurante. Dei a volta no hotel (que não era pequeno) e não vi nada. Não satisfeito, dei mais uma volta, procurando com mais atenção. Absolutamente nada. Estávamos numa ponta junto ao mar e definitivamente não havia outro prédio em volta. Ainda pensei: será que o restaurante fica dentro do hotel? Voltei, intrigado e disposto a perguntar a alguém no hotel (na rua, não havia mais ninguém). Na recepção, ninguém. Na sala de estar, ninguém. Ninguém em todo o andar térreo. Subi a escada (um cartaz dizia que o restaurante do hotel ficava no andar seguinte). Já não me importava tanto achar aquele restaurante específico, eu queria achar um canto qualquer onde comer, e de quebra queria saber onde estavam as pessoas daquele lugar. Pois o outro andar não só estava deserto como tinha as luzes apagadas. Havia uma porta onde se lia “Restaurante”. A porta estava fechada, estava tudo escuro e só se ouvia o vento e as ondas do mar, lá fora.
Ainda percorri o que pude em busca de nem sei mais o quê (ou quem). Nada. Encontrei, no saguão, uma pequena lojinha de lembranças. Fechada. E só. O hotel estava deserto! Era uma situação inusitada: recém-chegados a uma ilha onde, de repente, não se via mais uma única pessoa, habitávamos um hotel fantasma. Sem escolha, desisti: voltei ao quarto e me deitei cedo, controlando a fome.
Na manhã seguinte, tudo normal: havia pessoas circulando e o café da manhã estava montado naquele mesmo restaurante que antes estava fechado. Servimo-nos, comemos e saímos para a rua, para enfim passear e descobrir o que o povo da ilha das Flores tinha a nos dizer.