Já comentei antes que os livros fazem parte das minhas viagens. Duplamente: tanto porque viajo com eles, lendo-os, quanto porque viajo atrás deles, deliciando-me com as livrarias que encontro pelo caminho.
Assim, vou colecionando não só livros, mas também livrarias. Há algumas que são realmente marcantes. Certas livrarias chegam a ser mundialmente famosas. Claro que estou longe de conhecê-las todas; muitas não passam, pelo menos por enquanto, de sonhos de consumo. A
Strand, em Nova Iorque, onde se diz que é possível encontrar tudo e nada ao mesmo tempo – porque, de tão grande, não se encontra o que se procura, mas encontra-se uma porção de livros que nem sonharíamos procurar. A
Selexyz Dominicanen, de nome difícil, em Maastricht, nos Países Baixos, que simplesmente está instalada dentro de uma igreja medieval.
São espaços encantadores, sem dúvida, que eu espero conhecer pessoalmente um dia. Porém, como qualquer lista de “melhores do mundo” há de ser sempre subjetiva e pessoal, não faz sentido incluir na minha relação lugares em que eu nunca estive. Minha lista das melhores livrarias do mundo é a lista das minhas melhores livrarias do mundo, sutileza que justifico lembrando que só pode ser especial o que nos toca, e só nos toca o que julgamos conhecer (um pouco que seja). Eis aqui a minha lista, então, que serve como reminiscência nostálgica e convite para os que me leem: quais as melhores livrarias do mundo?
Em terceiro lugar, a
livraria Lello, no
Porto. Quem me falou dela pela primeira vez foi minha amiga
Marta, e graças à Marta é que a visitei. Trata-se de um prédio com arquitetura e decoração de tirar o fôlego. Um convite aos olhos. E não chega a ser uma livraria grande em tamanho, o que, no caso, é uma vantagem, porque permite que ela seja aconchegante.
Em segundo lugar,
El Ateneo, em Buenos Aires. Neste caso, o que rouba a cena é a sensação de surpreendente grandiosidade. Um ambiente onde os livros são as estrelas. Pudera, estamos num teatro, literalmente! Um antigo teatro convertido em livraria não tem como não ser uma experiência única. Como se não bastasse isso, o recheio do lugar é muitíssimo variado e tem preço bastante acessível.
Em primeiro lugar... Não, não posso dizer o primeiro lugar. Iriam rir de mim ou desconfiar de que estou fazendo piada. Pois o primeiro lugar não é nenhuma destas grandes livrarias que figuram em revistas ou guias turísticos. É, como eu insinuei aí em cima, a minha livraria. Estou falando desta livraria que encontramos sem esperar quando dobramos uma esquina, à toa, pela primeira vez. De repente, lá está ela: uma porta estreita, talvez uma escadaria um tanto empoeirada, estantes caóticas e apertadas. E, no meio de tudo, tesouros que vão nos conquistar (não nós a eles), livros nunca lidos que vão fazer lembrar a infância. E, quando nos maravilharmos ao ler a nota escrita à margem de uma destas raridades por uma mão infantil ou por um coração apaixonado, o senhor de trás do balcão, que parece ter vivido ali sua vida inteira, vai nos sorrir como quem conhece todas as histórias. E nos piscará o olho, pois terá adivinhado o que adivinhamos: que sempre haverá um novo leitor para as velhas leituras.